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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    O centro, Scheinkman e o mico-leão-dourado

    “Quem se considerava centrista é hoje apenas linha auxiliar da extrema direita”, escreve o colunista Moisés Mendes

    (Foto: Reuters | Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini)

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    Sabe-se, pela repetição de declarações do governador Eduardo Leite, que ele não é negacionista, não sabotou as leis ambientais do Rio Grande do Sul, não incentiva ações destrutivas contra rios, matas e bichos e não tem vínculos com ideias da extrema direita.

    Sabe-se o que Leite não é, mas não se sabe direito, nem pela negação do que possa ser, o que na essência política é de fato o governador gaúcho. Assim como não se sabe de similares que poderiam ser hoje os últimos exemplares do que um dia foi o centro no Brasil.

    Como fez no Roda Viva dessa semana, Eduardo Leite ataca a polarização, condena os confrontos políticos que dividem famílias e diz não ter conexão com agressores da natureza. Mas não consegue dizer o que é.

    Há um contingente de políticos brasileiros que se tornaram incapazes de raciocinar pela afirmação. A negação exclui o que eles acham que não são, mas sem que se tenha uma ideia do que possam ser.

    Eduardo Leite pretende ser o mico-leão-dourado do PSDB. Mas há outros bichos raros em partidos com perfil semelhante, que foram absorvidos pela capacidade da extrema direita de dizer o que de fato é. Leite e seus assemelhados não podem dizer o que são hoje. Mas são da linha auxiliar do extremismo.

    Leite é o mico-leão que já conviveu com predadores. Já compartilhou espaços de poder com líderes dessa gente. E já se declarou publicamente eleitor de Bolsonaro. É um dilema terrível. Leite e similares do que antes seria o centro são, por exemplo, incapazes de saber quem é o economista José Alexandre Scheinkman, um pensador liberal que leciona na Universidade de Columbia e continua falando sobre perspectivas de futuro para o Brasil, até porque não há substitutos jovens do que ele pensa. Não com a mesma densidade.

    Scheinkman disse agora ao Estadão, no momento em que o Rio Grande do Sul é devastado por um evento climático, que é preciso parar de desmatar a Amazônia para criar gado.

    Mas quem vai ouvir o economista, se desmatadores e grileiros se misturam a criadores de gado ‘normais’ do Centro-Oeste e do Norte para destruir o ambiente, em nome do agro pop? Se estão pondo em risco o bioma pampa no Rio Grande do Sul?

    Não há mais ouvintes no Brasil para gente com o perfil de Scheinkman. Não há mais líderes empresariais capazes de se inspirar e compartilhar entre os seus as ideias de um economista do porte do economista da Columbia.

    Não há no Rio Grande do Sul quem possa parar para prestar atenção no que ele diz, nem Eduardo Leite. O governador disse no Roda Viva, por cinco vezes, que é preciso ter resiliência para enfrentar a tragédia das cheias no Rio Grande do Sul.

    Quando se sabe que a palavra resiliência, numa hora dessas, pouco ou nada significa para quem perdeu tudo. Ele também disse por três vezes que não acredita nas narrativas de quem o ataca.

    Reproduziu, com a conversa da resiliência, até na fala, a linguagem de uma direita que se aproxima cada vez mais da extrema direita e se afasta de referências do tamanho de um José Alexandre Scheinkman, que talvez ele nem saiba direito quem seja.

    Tudo o que não cabe na compreensão da direita que virou extrema direita é agora apenas narrativa. Leite fala de narrativas como falavam os bolsonaristas na CPI da Covid. Para eles, os defensores de medidas de prevenção produziam narrativas. Os que pediam vacinas criavam narrativas.

    Eduardo Leite, seus pares tucanos que ainda resistem e todos os que ainda acreditam na possiblidade de uma ‘terceira via’ contra a polarização, todos eles deveriam brigar pelo que defendem.

    Mas são incapazes até de repetir o que Scheinkman pensa sobre a irracionalidade de trocar a floresta por gado. São cúmplices demais do poder econômico que avança sobre áreas que deveriam ser preservadas.

    Não há renovação de vozes ao centro, na linha do pensamento liberal que Scheinkman defende, porque não há mais centro. Nem entre economistas, nem entre empresários, políticos ou alguém com alguma representação por falar em nome do que não existe mais.

    Políticos com o perfil de Eduardo Leite, que diz o que não é sem conseguir dizer o que de fato possa ser, são apenas linha auxiliar do extremismo. As catástrofes acontecem também pela extinção do centro que nos ajudou a resgatar a democracia.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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